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Manejo de pragas de lepidópteros da soja no Brasil

guias de pragas

Guias de corte

Chrysodeixis includens (Lagarta-falsa-medideira)

Visão geral

A ordem Lepidoptera, incluindo borboletas e mariposas, desempenha um papel importante nos ecossistemas naturais como polinizadores e na cadeia alimentar. No entanto, as suas larvas representam um problema, especialmente para a vegetação agrícola, uma vez que se alimentam predominantemente de matéria vegetal viva, causando danos às culturas e aos meios de subsistência.

Neste guia, abordamos como reconhecer, manejar, controlar e monitorar lepidópteros praga na cultura de soja, que é uma questão particularmente problemática no Brasil.

Várias espécies de lagartas de lepidópteros se alimentam de folhas de soja, incluindo a lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis. Considerando sua abundância e ocorrência frequente nas regiões cultivadas com soja no país, é considerada a praga mais significativa.

Recentemente mais duas espécies foram observadas causando problemas na cultura. As alterações no manejo da lavoura têm resultado que algumas espécies de Spodoptera também atuem como desfolhadores de 2003, principalmente em lavouras de soja que crescem perto de pastagens, milho ou outras gramíneas.

Além disso, a detecção de uma praga invasora, a lagarta do algodão Helicoverpa armigera na safra 2012 e 2013 vem preocupando os sojicultores brasileiros e de outros países, tais como Paraguai e Argentina, devido aos danos severos causados nos cultivos de milho, algodão e sorgo.

Reconhecendo os principais lepidópteros-praga

Anticarsia gemmatalis  (Lagarta da Soja)


Lagarta de <em>Anticarsia gemmatalis</em> (Fonte: Embrapa Soja)

Mariposa de <em>Anticarsia gemmatalis</em> (Fonte: Embrapa Soja)

O primeiro instar larval da lagarta da soja, A. gemmatalis, é verde, com quatro pares de pernas abdominais. Dois deles são vestigiais e outro par anal, fazendo com que a lagarta se mova de uma forma que dá a impressão de estar medindo distâncias, fazendo com que muitas vezes seja confundida com a lagarta da soja ((Chrysodeixis includens). As lagartas maiores (>1.5 cm) podem ser tanto verdes quanto escuras, com três linhas longitudinais brancas no dorso. A pupa tem coloração marrom e usualmente estão localizadas no solo. Os adultos apresentam envergadura de asas de 30 a 38 mm e coloração variável, de cinza claro ao marrom-escuro), mas sempre apresentam uma linha diagonal de cor marrom canela unindo as pontas do primeiro par de asas, o que auxilia em seu reconhecimento.

Crisodeixis inclui (Lagarta-falsa-medideira)

Lagarta de Chrysodeixis includens (Fonte: EMBRAPA Soja)Mariposa (direita) de Chrysodeixis includens (Fonte: EMBRAPA Soja)

As lagartas recém eclodidas de C. includens são de coloração verde-clara, com listras longitudinais brancas com pontuações pretas. Dentro de cada instar, a lagarta passa por uma mudança na coloração de verde amarronzada-clara para verde-limão translúcida. A pupa ocorre sob uma teia, em geral na face abaxial das folhas, e diferente de A. gemmatalis, tem coloração amarelo-pálida para verde-clara no início do desenvolvimento e logo depois adquire pigmentação dorsal irregular que mantem até 48 horas antes da emergência. Os adultos têm asas de 35 mm de envergadura, dispostas em forma inclinada, sendo as asas anteriores de coloração escura, com duas manchas prateadas brilhantes na parte central e as asas posteriores são de coloração marrom.

Lagartas do complexo Spodoptera 

As lagartas de Spodoptera cosmioides(Walker) e  Spodoptera eridania(Cramer) são as mais comuns na cultura da soja, principalmente a partir do início da fase reprodutiva, quando além de produzir desfolha também atacam as vagens das plantas. Porém,Spodoptera frugiperda(Smith) e  Spodoptera albula(Walker) podem também ocorrer em plantas recém-germinadas, quando lagartas de instares mais avançados cortam as plantas rente ao solo.

Lagarta de Spodoptera eridania (Fonte: Embrapa soja)
Mariposa de Spodoptera eridania (Fonte: Embrapa Soja)
Lagarta de Spodoptera cosmioides (Fonte: Embrapa Soja)Mariposa de Spodoptera cosmioides (Fonte: Embrapa Soja)
Lagarta de Spodoptera frugiperda (Fonte: Embrapa Soja)Lagarta de Spodoptera frugiperda (Fonte: Embrapa Soja)

Helicoverpa armigera (a lagarta do algodão)

As lagartas recém eclodidas de Helicoverpa armigera as lagartas são de cor clara, com pequenas manchas que ficam mais escuras à medida que as larvas se desenvolvem. Eles também têm linhas ao longo do corpo, uma protuberância escura em forma de sela no quarto segmento e pernas escuras. Lagartas de ínstar tardio têm pelos brancos ao redor da cabeça. Você pode encontrar pupas no solo abaixo das plantações. Os adultos têm envergadura de 30 a 45 mm. As fêmeas são marrons a marrom avermelhadas, enquanto os machos são opacos, esverdeados a amarelo ou marrom claro. As asas posteriores são de cor clara e possuem uma margem externa larga e escura com uma pequena mancha clara.

Lagartas de Helicoverpa armigeraMariposa de Helicoverpa armigera

Manejo Integrado de Pragas como estratégia para o manejo das populações de pragas 

O que é o Manejo Integrado de Pragas?

Saber reconhecer as principais pragas que atacam o cultivo, fazer o monitoramento no campo, agir a partir dos níveis de ação recomendado pela pesquisa permitem tomar decisões sobre a aplicação de determinada tática de manejo.

Nesse caso, é importante adotar as práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), pois é a melhor maneira de combatê-las. O MIP é uma abordagem de controle de pragas que busca harmonizar a eficiência no combate, a responsabilidade socioambiental e a produtividade através de uso de táticas tais como o controle biológico, controle cultural, resistência da planta e até o controle químico, usado de uma maneira oportuna. A maioria das definições do MIP enfatiza o uso de estratégias de controle que visam minimizar as perdas de produtividade por meio do conhecimento científico, do apoio tecnológico e do bom senso dos produtores.

Dentre as táticas no MIP-Soja incluem-se a realização de monitoramento ao menos uma vez por semana, para verifi­car tanto o nível das populações de pragas bem com o tamanho das lagartas e o nível de dano já ocasionado (porcentagem de desfolhamento, número de plantas atacadas).


Destacar as medidas de controle pós-aparecimento da praga é crucial, considerando a relação entre a densidade da praga, o nível de dano e o Nível de Ação estabelecido para a cultura.

O que é o Nível de Ação?

O que é o nível de ação: o nível de ação é um indicador que define qual é o momento mais oportuno para aplicar medidas de controle de uma praga. Assim, se os níveis populacionais da praga estão abaixo do Nível de Ação recomendado, não é necessário usar medidas de controle,  mas é importante fazer o monitoramento! Quando a população atinge ou ultrapassa o Nível de Ação recomendado, devem ser tomadas medidas de controle.

Além da aplicação oportuna de pesticidas, os inseticidas seletivos são essenciais para garantir a preservação de organismos benéficos que atuam como controles biológicos de pragas. Nunca aplique preventivamente esses pesticidas seletivos, pois isso intensifica os problemas de pragas.

  • No Brasil, existem vários produtos registrados para o controle de pragas da soja. É importante considerar a rotação de produtos e o uso racional de inseticidas como fatores indispensáveis para o manejo da resistência de insetos (para mais informação visite o site: http://www.cnpso.embrapa.br/helicoverpa/publicacoes.htm.

Alternativas biológicas para o manejo da lagarta do algodão (Helicoverpa armigera)

No estado da Bahia foram encontradas lagartas de H. armigera infectadas naturalmente pelo fungo Nomuraea rileyi (Hypocreales: Clavicipitaceae) atingindo até 33 % de mortalidade.

A utilização de parasitóides também vem crescendo no Brasil. Durante a estação de crescimento de 2013-14, uma espécie chamada Trichogramma pretiosum foi usado em cerca de 250,000 hectares de soja para controlar o número de H. armigera e C. inclui ovos. Também foi aplicado a outras culturas, incluindo algodão, milho, feijão e frutas. Além disso, Trichogrammatoidea anular mostrou um importante potencial para o parasitismo.

Baculovírus têm sido importados de países como a Austrália para uso no Brasil. Em 2019 foi relatada pela primeira vez a ocorrência da espécie HearNPV, uma espécie de nucleopoliedrovirus (NPV) estreitamente relacionado com espécies de baculovírus da Austrália, Índia, África do Sul e China. Suas propriedades inseticidas assinalam que pode ser útil para a fabricação de bioinseticidas para o controle de H. armigera no Brasil.

  • Para conhecer quais opções de biocontrole estão registradas e disponíveis para pragas da soja no Brasil, confira no Portal CABI de BioProteção.

Outra opção sustentável pode ser a adoção da soja Bt (soja GM que expressa a proteína Cry1Ac), a qual é disponível no Brasil. Para esta tecnologia é importante enfatizar a necessidade da adoção de uma área de refúgio com soja não Bt (área de refúgio) que pode variar de 20 até um 50% para assegurar o funcionamento da tecnologia com precisão.

Conhecendo o nível de ação para lagartas do complexo Heliothis-Helicoverpa em soja

Uma vez que H. armigera foi relatada no Brasil na safra 2012-2013, foi recomendado realizar visitas periódicas à lavoura, pelo menos uma vez por semana na fase vegetativa, enquanto na fase reprodutiva (R1 a R6) as vistorias devem ocorrer até XNUMX vezes por semana pois nessa fase a praga ataca as estruturas reprodutivas tornando-se mais importante. H. armigera ataca as estruturas reprodutivas das plantas durante a fase reprodutiva e, portanto, torna-se mais um problema.

Visto que as lagartas de  H. armigera  (praga invasora), Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga do milho) e  Heliothis virescens  (lagarta-da-maça do algodoeiro) são muito parecidas, a identificação através da diferenciação visual é quase impossível, de modo que o nível de ação e o manejo devem ser desenhados e realizados para o conjunto dessas pragas.

Inseticidas seletivos pode ser uma opção viável, mas deve sempre ser aplicada com relação ao Níveis de ação a fim de minimizar os gastos causados ​​por aplicações desnecessárias. Inseticidas seletivos são menos prejudiciais aos insetos benéficos que freqüentam as plantações e proporcionam controle biológico de pragas (inimigos naturais). Principalmente predadores e parasitóides, bem como a agentes enteropatogênicos como vírus, bactérias, fungos e nematóides, que são responsáveis ​​pela redução das populações de insetos-praga.

Nível de Ação para algumas espécies de lepidópteros-praga da soja

Duas opções para o monitoramento de H. armigera Helicoverpa armigera

A folha de espancamento, com 1 m de comprimento, é a principal ferramenta para diagnóstico de pragas nas lavouras. Os agricultores podem facilmente usar esta ferramenta simples.

Procedimento 

  1. O pano de batida deve ser instalado entre duas linhas de soja com cuidado para não sacudir as plantas da linha que foi escolhida para a amostragem
  2. No caso de Helicoverpa, o primeiro passo é verificar os ponteiros (pontos de crescimento da planta) no espaço de monitoramento, por serem o ponto inicial do ataque–ponto preferido para as mariposas colocarem seus ovos.
  3. Depois de verificar os pontos de crescimento das plantas, deve-se sacudir as plantas sobre o pano para verificar se alguma lagarta de maior tamanho está presente na folhagem.
  4. Contabilizar o número de lagartas encontradas nesse metro lineal. Usar 100-XNUMX pontos para XNUMX hectares. Quanto maior o número de pontos de amostragem, maior segurança para a tomada de decisão sobre o momento ideal e o tipo de controle de pragas a ser realizado.
  5. Ao final, com a média de lagartas encontradas, o agricultor pode decidir se aplica algum método de controle ou contínua com o monitoramento nas próximas semanas.

Didactic tool

A Ficha de Monitoramento é uma outra ferramenta didática disponível no site da EMBRAPA (para mais detalhes, visite o site da EMBRAPA) que traz fotografias das principais pragas da soja, com quadros para registrar o número de lagartas pequenas e grandes, e no verso os principais inimigos naturais visando auxiliar o agricultor no reconhecimento.

Uma estratégia eficaz para gerenciar populações de pragas de lepidópteros

Concluindo, o manejo integrado de pragas é o método mais eficiente de manejo de pragas de lepidópteros nas lavouras de soja no Brasil. Isto combina a monitorização e prevenção de populações de pragas com a aplicação de medidas de controlo direto cuidadosamente selecionadas apenas quando necessário. Identificar prontamente e corretamente as infestações é essencial para implementar métodos adequados de controle e prevenção.

Visite o Portal CABI de BioProteção Brasil descobrir quais opções de biocontrole estão registradas e disponíveis para pragas da soja no Brasil.

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